14.11.12

I
A floresta tem, como a praia tem e o planalto tem e a lua tem, uma luz obscena.
A floresta tem mais verde que vermelho, mais castanho que preto, mais amarelo que laranja.
A floresta guarda relíquias e transforma-as e de novo. Como uma fábrica que não quer vender nada.
Os sons que ouvires na floresta nunca te serão dirigidos. Nunca será para ti a floresta.
Os gritos que ouvires na floresta perder-se-ão dentro da tua cabeça. E de dentro dela se soltarão.

A floresta alimenta-se de ti.

A floresta passeia-se em ti.


II
Tu sabes que este lugar é uma casa imensa. E que os quartos e as salas se multiplicam e que todos os cantos se abrem. Tu sabes que tua cama de casal, que a folhas amaciaram com o tempo, vai desfazer-se um dia. Tu não abras a porta que ainda entra uma raposa. Tu não abras a porta que ainda entra um veado.

III
Passas o carvão na cara. E acreditas que podes encontrar ouro. O ouro não te serve de nada. Já não se fazem anéis.



1.11.12

Eu vou a Niterói enterrar os meus amantes. Vou lavar-lhes os corpos na baía e envolvê-los nas folhas de palmeira perdidas no jardim. Vou perfumá-los com goiaba. Vou arrancar-lhes as roupas com uma faca afiada. Vou empurrá-los para a garagem. Vou levá-los na van. Vou empilhá-lhos com a ajuda dos macacos. Eu vou a Ipanema matar os meus amantes.
Eu já me esqueci do início desta avenida. De tão longa, de tão quente. Os meus pés só me doem porque me lembro de ti. Não é do caminho. É uma dor como no peito. Não lhe vejo o fim, não lhe vejo o propósito. Se tu puderes encontra-te comigo na igreja onde mataram as crianças a noite passada. Vamos fazer uma promessa e esquecer que levámos anos a aqui chegar.