29.6.11

Continuo a não perceber duas camas de hotel separadas.
Não há razão para ficares aí na tua casa.
Continuo a beijar-te a 4003 km de distância.

25.6.11

escândalo

Talvez já nem me lembre de como os olhos se transformam em boca e a boca em pescoço. Tenho uma ideia vaga. Mas sinto o teu perfume asiático. E consigo ver-te despir as calças em dois movimentos rápidos. E o teu corpo nu a explodir.

12.6.11

Não tem memória de nada. Lembra-se que estava muito quente, muito húmido e lembra-se do cheiro a menta barata. O resto aconteceu com todas as pequenas actividades do pensamento empenhadas noutra coisa que não aquele corpo. Agora sente-se ainda mais virgem.

8.6.11

Não vás buscar a espingarda para calar os passarinhos. É de madrugada e as nossas pernas musculadas ainda deviam estar entrelaçadas.

7.6.11

Assim se partiu tudo como se houvesse um machado louco nas nossas palavras. Não se viram destroços, nem relíquias quebradas ao meio. Não se viu nada. E nem houve nevoeiro ou poeira a descortinar a desgraça com poesia. Foi só assim um silêncio, uma escuridão a eclipsar-nos.
O desenho das tuas palavras a traduzir o teu corpo solteiro no meu ecrã. O meu corpo solteiro a amparar-se na queda. A sentir os cuidados das mães e dos pais, dos irmãos, dos melhores amigos e de outros homens que não conheço.
E só ao fim de algumas horas vieram as lágrimas atrasadíssimas como se os olhos não tivessem sido avisados da babárie. Só depois do sexo se chorou o sexo. E pela madrugada, anúnicos de vendas.
Assim se partiu tudo com pena, com honra, com alguma dignidade.
Assim se chegou àquela noite. Não, não foi um fim. Ambos sabemos que não foi nada disso. Ainda podemos celebrar as manhãs que passaremos a acordar-nos com suavidade.
Mas assim como se passaram as coisas parece que se partiu tudo.

1.6.11

Não me entretanhas com o fim. Nós já nos beijámos em toda a parte e em toda a parte já nos escusámos também. E prometemo-nos luxo e senso comum. E saudades. Não sei se te espere sentado ou junto à porta com uma faca de cozinha. Só te quero assustar. Não me entretanhas com o fim porque já não durmo há meses e preciso de descansar.

play a sound to me

Eu sei que não me ouves aqui num buraco, numa rua, num caos na Europa. Mas queria tanto dar-te uma novidade e não a tenho. Consigo ver-te daqui dormir num ritmo de sono profundo de solteiro. Sem medo, sem justiça. Irresistível. Então eu deixo cair a estante de livros, tu abres os olhos com o estrondo e o teu corpo a acordar num susto sossega-me. Estás vivo e és mesmo tu e sou mesmo eu. Já nem há nada entre nós: milhões de pessoas e montanhas e lagos e aviões a voar em simultâneo. Desculpo-me, não te queria ter-te acordado, mas tu sabes que eu não gosto de dormir deste lado da cama.