31.10.08

fala com ela

Não se vai esquecer de escrever todos os pormenores dessa experiência sobrenatural se foi frio se foi calor não se vai esquecer com certeza das cores que lhe vão passar pelos olhos nem dos sons se os houver dizem que se ouvem coros que é uma espécie de fim que não se vai esquecer

30.10.08

Chama-se

Chama-se hesitar. É dividir uma decisão em frames.

exit music

Há-de adormecer sem esforço sem ser preciso forçar os olhos nem apagar as luzes há-de adormecer calmamente talvez oiça uma música ou invente uma melodia para ter qualquer coisa a que se agarrar uma criação de última hora há-de adormecer no momento em que chegarem como tropas pequenas porções de memória

28.10.08

Chama-se

Chama-se história. Tem princípio, meio e fim. E princípio.

27.10.08

sol de inverno

Chove ininterruptamente desde Janeiro. As coisas molhadas às vezes parecem coisas secas porque não chove sempre com a mesma intensidade. Há alguma coisa a querer sair do chão, mas não se percebe bem o quê. Pequenas explosões na calçada aliviam-lhes as nucas, os pescoços e os escombros. Há impermeáveis a escorrer pela avenida sem pessoas dentro. Alguns carros levam impermeáveis presos nas rodas. As pessoas desistem de os usar. Talvez não aguentem tanto mau tempo. É muito tempo e muita chuva. Chove desde Janeiro.

dirty dancing

Atenção. Pense como coloca as mãos. Meça a distância entre um pé e outro. E o ângulo do cotovelo dobrado, claro. Não se esqueça de escolher a mão mais forte para segurar o copo. Pode passar alguém de repente. Garanta que tem um ou dois movimentos preparados para o silêncio. Os olhos são muito importantes. Não são para mais nada, são para deslizar.

25.10.08

j'aimerais partager le printemps avec quelqu'un

Ele vai pegar na câmara com cuidado. Como se nunca tivesse visto um filme suspenso entre os dedos. A ponte, o rio, as casas: um homem. Quando já for tarde, vai sorrir. Importa-se que o filme? Os planos mais apertados. A cara, o cabelo, os olhos. E os planos mais apertados. Não tinha planeado isto. Não se importa mesmo que o filme?

23.10.08

Chama-se

Chama-se surpresa. E é só uma questão de não ser a primeira.

entre aspas

"And then I'll take you home
Where we live and where we roam
On the bed and on the phone
Don't stop, cause every place you've known
Is a robot zone"


IS A ROBOT, dEUS

cinema paraíso

Ele vai conseguir o último bilhete. O último. Uma fila enorme e ele vai conseguir o último bilhete. Tem que jogar no Euromilhões é o que vai ouvir na bilheteira. Vai sentir-se escolhido. Uma bola de luz no chão. Escadas, cadeiras, quarta fila. Uma modelo vai hesitar entre sentar-se ao pé dele ou. Vai preferir outro lugar. Tem que jogar no Euromilhões parece deixa de um filme francês. Jovem, fresco, misterioso. A modelo não lhe vai parecer bonita: uma sombra. A luz mais baixa. A perna cruzada sobre o vazio do corredor. Foi o último bilhete e ele vai ficar milionário.

Chama-se

Chama-se entretenimento. Ao que se faz entre uma perda e outra.

21.10.08

Chama-se

Chama-se paciência. E não tem ciência nenhuma.

a carta

Ele vai escolher um lugar sem pressa. Olhar à volta. Desconfiado. Um ou dois movimentos mecânicos. E vai ficar desiludido com a falta de naturalidade. Sempre a mesma coisa. Ninguém cruza e descruza as pernas em tão pouco tempo. A agenda em cima da mesa. Novembro cheio de desenhos feitos quando Novembro ainda estava longe. Não precisa de Novembro. Vai lamentar a falta de tempo para estar com os amigos. E rir-se sem se aperceber. Vai pensar em escrever uma carta. Mas para quem. Mas para quem. Máquina, câmara, blog, mp3. E a carta vai continuar a parecer uma boa ideia.

20.10.08

destruir depois de ler

Cartas regulares para quatro mulheres. Dos 12 aos 17. Intervalos, desistências, reestruturações do discurso. Nunca a palavra "rua". Ou estrada ou quinta ou noutra língua. Entretanto, os bilhetes. Os curtos e os longos. Muitas muitas páginas. Bricolage até aos 15. Perfume nunca. Folhas coloridas nunca. Selos ao acaso. Postais intactos, nunca vistos.
Muito fogo.

17.10.08

Chama-se

Chama-se expectativa. E é bom que valha a pena.

16.10.08

Chama-se

Chama-se dormência. Uma leve sensação de que tudo é pesado.

15.10.08

telepatia

Não foi preciso muito para perceber que não havia razões para instalar o programa. Aritmética simples. Arritmia certa.

Sic Notícias, 15.17

"No futuro, os robôs serão decisivos no combate aos fogos."

Chama-se

Chama-se exílio. É quando uma pessoa põe uns phones e se põe a andar.

Chama-se

Chama-se mudar de vida. À ideia de mudar de vida.

Chama-se

Chama-se perversão. Cada um conta a história à sua maneira.

48

A mão reconhece a geografia da cara. Não encontra a boca. E agarra numa caneta. Ainda te apetece dizer alguma coisa? Não, não. Deixa estar. Deixa estar como? Vamos ficar a olhar. Vamos ficar a olhar. Acho que a caneta não serve para nada. Pois não. Tens câmara?

14.10.08

telepatia

A câmara esta desligada há mais de um mês. Não chegou a funcionar. Dez euros. Pouparam-se muitas desilusões.

13.10.08

roda da sorte

Deram as mãos. Um círculo perfeito.

Chama-se

Chama-se detalhe. A uma coisa que não é invisível.

5

Despistou-se contra todas as expectativas.

12.10.08

lição nº 2

Um robot nas suas mãos pode mudar o mundo.

Chama-se

Chama-se previsão. É quando uma pessoa faz tudo o que pode fazer antes de ver alguma coisa.

11.10.08

Chama-se

Chama-se ver a luz. E isso não significa nada. Pode ser apenas abrir a porta do frigorífico.

liçao nº 1

Um robot nas suas mãos pode fazer muitos estragos.

10.10.08

Olha, robot!

É agora ou nunca. Olha agora ou já só ouves o estrondo.