31.3.09

not fair

Podias adormecer de vestido em cima da cama. E deixar as rendas caírem-te da boca como saliva. E os olhos revirarem-se como pérolas. Mas não vamos ficar aqui muito tempo. Temos lantejoulas a saltarem-nos dos poros, meio vivas, meio mortas. Não vamos ficar aqui muito tempo. Só o tempo de engolir os teus saltos altos e os meus botões de punho.

28.3.09

she

E depois ela levantou os braços a preparar um beijo. Ele deixou-se estar imóvel com a faca na mão. Ou te corto a boca ou me enterras no quarto.

21.3.09

breaking the waves

Guardaram as toalhas, os tapetes, os candeeiros de pé. E os quadros. E com eles pedaços de paredes agarrados ao bordado da camisa. Guardaram como um segredo. Como se guarda. Vigilantes. Guardaram os armários, os mosaicos, as torneiras. E as portas e as escadas do prédio. Sob o olhar atento. Vigilantes.

19.3.09

canção de lisboa

Tomaram-me de assalto a casa. E deixaram-me o mp3 em pausa.

17.3.09

live

Havia uma estante ao fundo, cadeiras, uma porta para a rua. Papéis espalhados, livros e o teu braço em movimentos repetitivos: música. Seis minutos precisos. O queixo a encostar-se ao ombro e as paredes a vibrarem com aplausos. E depois o suor a humedecer o carpete.

11.3.09

l'amant

Sangraram-te palavras da boca. Eu não te quero ver apodrecer noutra língua.

10.3.09

lorelei

E quando devolver pela primeira vez a saliva vai pensar duas vezes se.

3.3.09

fairytale

E depois ele soprou uma voz, com risos a perfurarem-nos as cabeças. Muitos risos e uma voz muito doce. E mel a escorrer-lhe pela camisa. Nós não podíamos ser mais felizes. Não podíamos ser mais nem maiores.

2.3.09

intervention

Não te cansas de a ouvir dizer palavras de ordem. Mas não entendes inglês.