28.2.12

Eu espero que não acabe, que nada acabe e que a evolução - se ela exisitu - pare aqui com graça e vigor. E se o nosso beijo se transformar em relíquia de museu, eu não me importo. Só que não acabe. E que se diga sobre ele qualquer coisa de extremamente elevado, mas popular. Que reuna, como as pirâmides, um consenso. Que coisa impressionante. O nosso beijo, que coisa impressionante. Autocarros, máquinas fotográficas. Que disparate.

24.2.12

Vamos ter que conversar sobre a tua melhor amiga. Vamos ter que perceber porque gostas tanto dela. Sobre os teus pais e o teu irmão estou bastante esclarecido. Os passaportes foram uma boa ajuda. Agora, preciso de saber mais sobre essa melhor amiga. Não me digas que te descansa saber que ela está lá, caso eu não esteja. Desculpa a minha honestidade, mas tenho imaginado a tua melhor amiga atirar-se do viaduto, exactamente no mesmo sítio onde me encontraste na terça-feira de carnaval.
Passei a vida a passar a mão com cuidado pelo fecho éclair. Passei a vida a fingir que não se passava nada, que não havia razão para a minha mão solta. Que o meu credo era uma poesia imensa e teimosa como comida entre os dentes. Passei a vida a treinar o meu maxilar no máximo da sua extensão, a treinar a nudez com um golpe de mágico, a treinar esperar-te meio sentado, meio deitado com um cigarro na mão esquerda. E nada demais se passou hoje, se não a nossa conversa monossilábica e alguns smiles de eroticismo duvidoso.

21.2.12

Tu podes guiar o carro com exagerada masculinidade. Eu vou olhar-te as veias tensas e os músculos num esforço suave a segurar o volante. O cotovelo pendurado. E os teus dedos a procurar com precisão e sem medo os botões. Tu podes guiar assim o carro e falar-me com as pestanas a bater a 180km/hora. E o teu blush pode desfazer-se no teu peito como chuva. Podes deixar-me nesta esquina e depois na outra e depois na outra. Tenho saudades das corridas de cavalos, meu amor.
Dezembro ficava bem como nota de rodapé. Nem família, nem dourados, nem neve, nem nada. O meu ano passava melhor, sem o cheiro insuportável dos corpos em decomposição amarrados ao pinheiro. Muito se disse sobre mim, que não estive lá. O meu ano passava melhor a escrever Dezembro com d minúsculo, a evitar esse conforto da nossa casa gelada. Muito se disse sobre mim, que não estive lá. Podiam ter-se rido, no entanto, desta ironia de não ter faltado hoje à festa de carnaval.