23.4.11

suburbs

Eu fumo enquanto tu trabalhas. Cigarro atrás de cigarro. Imagino-te a bandeja em equilíbrio na mão direita e o sorriso assimétrico. Teclo todas as coisas que me vêm à cabeça e levo outro cigarro à boca. Encurto o tempo enquanto tu trabalhas e não te preparo o jantar. Ainda conto receber-te um dia em casa com pompa e circunstância, mas tenho preguiça. Esperar por ti enquanto trabalhas dá-me tanta preguiça que quando tu chegas só te sei esperar. As minhas pernas balançam, a mesa treme, a orquídea ressente-se. O cortinado queimado por outro cigarro involuntário quase não se mexe. Espero que nunca repares no buraco do cortinado. De qualquer modo, hás-de estar ocupado com o teu trabalho e eu com a minha dignidade. Já sei controlar a ansiedade dos últimos minutos antes da hora certa. Deixo-me estar como aquelas pessoas que sabem mesmo deixar-se estar e fico mais calmo. E quando tu chegas vês-me quase morto. Só eu sei que se passaram tantas coisas enquanto tu trabalhavas.

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